Crise global reduz emissão de CO2


Retração da atividade econômica fará emissões de CO O2 cairem 3% em 2009, primeira redução em 40 anos

Se a crise financeira quase provocou o caos no mundo e jogou 100 milhões de pessoas para a pobreza, ela pelo menos teve um lado positivo: o mundo registrou a queda nas emissões de CO2 nos últimos 40 anos. A conclusão é da Agência Internacional de Energia, com sede em Paris. Ainda assim, a queda deve ser rapidamente compensada se políticas ambientais não foram aceleradas.

A AIE estima que o setor de energia terá de investir US$ 10 trilhões para reduzir emissões e se adaptar em 20 anos. Só o setor do etanol precisará de investimentos de US$ 400 bilhões. Mas a agência estima que o setor nuclear exigirá um investimento superior ao dos biocombustíveis, inclusive entre os emergentes.

Em 2009, a estimativa é de que as emissões sofram uma queda de 3% por causa da redução dos investimentos globais em tecnologias poluidoras. O impacto foi tão profundo que exigiu que a entidade fizesse uma revisão das emissões de CO2 em 2020. Com a queda dos últimos 18 meses, a projeção é de que o volume emitido pelo planeta seja 5% abaixo do cálculo inicial.

Para a AIE, a crise é uma chance para modificar o padrão de desenvolvimento do mundo. "Temos uma oportunidade única", afirmou o diretor executivo da AIE, Nobuo Tanaka. Apesar da queda de emissões, a AIE observa que o ganho dos últimos 18 meses pode ser rapidamente desfeito com a volta do crescimento da economia. Se nada for feito, as emissões de CO2 vão aumentar em 30% até 2030 e, em grande parte, por causa do maior uso de combustível fósseis nos países emergentes. Se isso ocorrer, a concentração de CO2 na atmosfera seria de mil partes por milhão (ppm) a partir do ano 2050.

METAS
Para que um cenário catastrófico não ocorra, a meta da AIE é de estabilizar as emissões de CO2 em 450 ppm até 2030. Por esse plano, as economias emergentes continuariam a crescer. Já a temperatura média do planeta não subiria mais de dois graus Celsius. E as emissões relacionadas à geração de energia poderiam aumentar até 6% no mundo até 2020, em comparação aos níveis de 2007. Mas intensidade de emissões de carros teria de cair em 37%. No total, as emissões teriam de ser reduzidas em 3,8 gigatoneladas até 2020. 1,6 gigatoneladas teriam de ser cortadas nos países ricos. Já a China teria de promover um corte de 1 gigatonelada. Para a AIE, isso demonstra o papel central que a China terá no futuro ambiental. Pelo plano, os países ricos teriam de reduzir em 17% suas emissões até 2020, com um corte nas emissões de carros em 39%. Nos Estados Unidos, a redução de emissões da produção de energia seria de 18%, ante uma queda dos veículos de 41%, a maior do mundo. Para a Europa, as exigências também são altas. A queda de emissões da produção de energia seria de 20%, ante 37% dos veículos. A AIE admite que os países emergentes continuem a aumentar suas emissões. Em 2030, elas seriam 14% acima das taxas de 2007. Mas os veículos nas economias emergentes também terão de sofrer uma transformação e criar 38% menos poluentes. A AIE destaca a situação da China que, até 2030, terá um aumento de 38% na emissão de CO2 em atividades relacionadas à produção de energia. Mas terá de cortar em 42% a intensidade de emissões de carros.
INVESTIMENTOS
No total, o setor de energia terá de investir US$ 10,5 trilhões em novas tecnologias e redução de emissões até 2030 para que a temperatura mundial suba em apenas dois graus Celsius. 30% desse investimento terá de ser feito nos países emergentes. O volume será equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2020, subindo para 1,1% do PIB em 2020. Mas a economia nos gastos de combustíveis somará US$ 8,6 trilhões entre 2009 e 2030. O segmento do etanol seria uma das apostas para atingir a meta de 450 ppm em 2020. Segundo a AIE, novas instalações para a expansão do etanol consumirá US$ 400 bilhões em 20 anos. US$ 230 bilhões serão gastos nos países ricos e US$ 127 bilhões apenas nos EUA. Já o investimento em etanol nos países emergentes chegaria a US$ 56 bilhões em 20 anos. Esses investimentos permitiriam que, em 2030, 12% dos carros do mundo fossem movidos a etanol. Porém, 80% ainda dependeriam da gasolina, ante 8% de gás natural e eletricidade. Nos países ricos, carros movidos a biocombustíveis serão 14% da frota. Nos Estados Unidos, a frota chegará a 19,8%, ante apenas 11% nos emergentes. Os investimentos em etanol, no entanto, serão inferiores ao que a AIE estima que será necessário na área nuclear, com US$ 520 bilhões até 2030. Desse total, US$ 132 bilhões de investimentos terão de ocorrer nos países emergentes.

Fonte: Estadão - Jamil Chade

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